Educação inclusiva

Setenta anos de história e inclusão

Atuante na cidade desde 1952 com atendimento especial a deficientes visuais, Escola Louis Braille completa mais um aniversário

Carlos Queiroz -

Meio de inserção e de promoção da inclusão aos deficientes visuais em Pelotas, a Associação Escola Louis Braille completa nesta sexta-feira (10) 70 anos de história. O local, que além de ser uma escola especial para alunos deficientes visuais de baixa renda, é um alicerce e um espaço de emancipação para jovens e adultos.

A história da Louis Braille iniciou em 1952, quando a jovem deficiente visual Lory Huber solicitou uma sala na Bibliotheca Pública de Pelotas para dar aulas aos deficientes visuais da cidade. Com a participação do doutor Guilherme Echenique Filho, a escola iniciou seus trabalhos no dia 10 de junho daquele ano, com apenas seis alunos. No início as aulas que eram ministradas por Lory contavam com mapas, cartilhas e ainda com a utilização de regletes e punções, materiais utilizados para escrever em Braille.

Setenta anos se passaram e, desde então, a pequena sala de biblioteca transformou-se em um prédio próprio construído pelo Estado, localizado na rua Andrade Neves. O serviço que antes atendia apenas seis alunos, hoje auxilia mais de duas mil pessoas que recebem aulas de informática adaptada ao Braille, participam do coral adulto, recebem aulas de percussão e violão, entre alunos do 1º ao 5º ano e pacientes do centro de reabilitação que atende Pelotas e mais 27 municípios da região.

“A gente tem uma escola especial com turmas de pré-escola a 5º ano, turmas de EJA [Educação para Jovens e Adultos], departamento de Atendimento Educacional Especializado, onde atendemos alunos de todas as redes de ensino que precisam desse suporte, e temos também o CRV [Centro de Reabilitação Visual], onde fazemos a reabilitação de pessoas que perderam a visão, oferecendo consultas oftalmológicas e exames.”, aponta Karina Bueno, vice-diretora da instituição.

Karina compartilha que está na escola desde 2015 e que, no início, achou que seria um grande desafio trabalhar na associação. “Quando eu entrei, achei que não iria dar conta, mas eu insisti. Eles são tão capazes quanto qualquer pessoa. É muito bom termos exemplos que nos mostram como são capazes de tudo”, relata. Ela traz o exemplo do seu Gilmar Rodrigues, que no Dia do Professor costuma oferecer uma janta especial para as docentes. “Ele faz tudo sozinho. Prepara uma sopa para nós e é super especial”, conta.
Histórias que inspiram

Gilmar Cunha Rodrigues, 74, atua como presidente da Louis Braille desde 2005. Mas a sua história com a escola começou há mais tempo. Ele conta que perdeu a visão do olho esquerdo ainda com três anos. Já a visão do olho direito, aos 18, em um acidente. “Eu tive que me adaptar gradativamente à falta de visão. Foi quando eu entrei na Louis Braille, em 1974, onde eu fiz toda a minha reabilitação”, diz Rodrigues.
O gestor ainda compartilha que o trabalho ofertado quando era aluno foi fundamental para que, anos depois, ele se voluntariasse para trabalhar na escola. “O nosso principal objetivo é o de ajudar e atender quem vem atrás da escola. Temos um orgulho muito grande em vê-los tão bem. Fui aluno e hoje sou presidente, então é uma satisfação ver essa união dos nossos atendidos.”

A Louis Braille é muito conhecida por seu trabalho voltado às crianças de baixa renda, mas também disponibiliza o CRV. Foi a partir das atividades desenvolvidas por lá que Paulo Coimbra, que entrou na escola totalmente cego, conseguiu recuperar 18% da visão. “Eu trabalho desde muito novo e uma das minhas funções era trabalhar na solda, o que começou a afetar a minha visão. Depois fui para uma outra empresa e mexia com muitos produtos químicos e isso também foi me prejudicando. Até que fiquei totalmente cego em 2017”, conta. A partir daí, ele foi encaminhado à reabilitação da escola e passou a viver uma nova vida. “Quando eu conheci a Louis Braille tive a certeza de que achei meu caminho. Eu disse para a minha esposa: ‘é aqui que eu quero aprender a viver a minha segunda vida, um recomeço de vida’”, aponta Coimbra.

No CRV são realizadas atividades de estímulo e exames, além de aulas de auxílios à mobilidade, pelas quais Coimbra acredita ter obtido grandes avanços. “A gente toca a vida com as nossas deficiências. Hoje sou outra pessoa, consigo fazer minhas coisas. Aprendi a fazer as atividades de casa, a sair na rua, a andar com segurança, porque eu tinha medo de sair na rua. Faço também aulas de Braille. Eu chego no supermercado e já consigo comprar minhas coisas. E faço aulas de percussão também”, finaliza.

Eventos para celebrar
Para comemorar os 70 anos de história, a Escola Louis Braille contou com uma programação especial de eventos desde a terça-feira, com a colocação da placa em homenagem à professora Lory Huber na Bibliotheca Pública. As celebrações se encerram nesta sexta com o parabéns e um coquetel na sede da Associação.

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